Com apoio do Sebrae, empresas de todo o país ampliam atendimento para conquistar turistas e alavancar vendas para o mundial de 2014.

A Copa do Mundo de 2014 será realizada no Brasil e o crescimento do mercado de trabalho é um dos assuntos mais comentados na mídia.

Ainda faltam 14 meses para a Copa do Mundo da FIFA 2014, mas para os pequenos negócios a bola já está em campo. O mundial de futebol já rendeu mais de R$ 100 milhões em vendas para empresas de micro e pequeno porte de todo o país. No Rio de Janeiro, a Trelicon, pequena fábrica de material de construção, concluiu o fornecimento de lajes para a obra das quatro rampas de acesso ao Maracanã.

Em Belo Horizonte (MG), a Multi Horta, empresa de alimentos que abastece hotéis e restaurantes, teve seu espaço triplicado. Em Canela (RS), os funcionári os do alambique Flor de Vale já falam inglês e espanhol para receber turistas estrangeiros que passarem por Porto Alegre durante o evento.

Desde 2011, o Sebrae realiza encontros de negócio para incentivar as micro e pequenas empresas a aproveitarem as oportunidades da Copa.

Um levantamento encomendado pelo Sebrae à Fundação Getúlio Vargas mapeou 930 possibilidades de negócios em dez setores: agronegócio, madeira e móveis, vestuário, serviços, comércio varejista, construção civil, turismo, Economia Criativa, artesanato e tecnologia da informação.

As rodadas de negócio, realizadas em todas as cidades-sede, aproximou compradores e fornecedores. Os encontros, que acontecerão até 2014, têm como objetivo auxiliar as empresas de micro e pequeno porte a se tornarem mais competitivas.

“Nossa missão é sensibilizar e preparar o empresário não apenas para aproveitar as oportunidades da Copa, mas principalmente para que sua empresa se torne mais apta a disputar o mercado no futuro. Esse é o grande legado dos eventos esportivos para os pequenos negócios”, afirma o presidente do Sebrae, Luiz Barretto.

A experiência no desenvolvimento de lajes que dispensam escoramento chamou a atenção de grandes construtoras para o trabalho realizado pela Trelicon.

Dono da pequena fábrica de lajes pré-moldadas, José Luiz Monteiro, terminou no fim de 2012 o fornecimento de material para as quatro novas rampas de acesso ao estádio que sediará o jogo de abertura da Copa.

O contrato com a Odebrecht, responsável pela reforma do Maracanã, já rendeu R$ 2 millhões, mas o empresário pretende fechar novas vendas. “Estamos negociando o fornecimento dos pisos táteis, para deficientes visuais, que será colocado no entorno do Maracanã”, avisa.

“Como o tamanho do piso é diferente que o habitual, mais largo, estamos trabalhando em um protótipo, com 25 centí metros de largura”. Em Salvador (BA), o empresário e engenheiro civil Raimundo Dórea percebeu a oportunidade que os grandes eventos esportivos poderiam trazer para a sua empresa, a Engpiso.

“Para mim, a Copa começou em 2009 quando eu tracei um planejamento estratégico para me preparar para atuar nas obras de estádios de futebol”, afirma. O planejamento deu certo.

Hoje, a Engpiso presta serviços na colocação dos pisos de concreto em dois estádios que receberão jogos no mundial: a Arena Fonte Nova (Salvador) e a Arena Pernambuco (Recife). As duas obras provocaram o incremento na receita mensal de U$ 300 mil.

O prazo de fornecimento para as obras é de 20 meses. Em 2010, Raimundo participou de uma missão na África do Sul para conhecer quatro arenas daquele país. “A experiência rendeu frutos. Pude estudar e me preparar para esses momentos”, diz.

Fundada em 1994, a Engpiso começou com oito funcionários. Hoje, são 42. Raimundo conta que desde que as obras começaram o quadro de colaboradores foi ampliado em 25%. “Por meio de um projeto social com apenados junto com ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, contratei a mão de obra necessária para dar continuidade à obra”, informa.

Raimundo também credita o sucesso na empreitada à parceria com o Sebrae, que realizou reuniões e deu suporte ao crescimento do negócio. “Você não vai sozi nho a lugar nenhum. Há vários atores envolvidos”, ressalta.

Brindes para gringos

Bolsas, cintos, carteiras e artigos para brindes da empresa Dalla Strada, localizada em Igarassú, na região metropolitana de Recife (PE), entraram em campo para a Copa do Mundo.

A empresa negocia com a Bio Fair Trade a encomenda de 100 mil peças que serão vendidas durante os eventos esportivos do Brasil.

A Dalla Strada conta com a parceria do Sebrae para colocar os produtos nas prateleiras. As mercadorias são confeccionadas de forma artesanal, utilizando materiais reciclados, como retalhos de jeans, lonas de caminhão e couro. O design das peças é diferenciado. Para o proprietário da Dalla Strada, João Bosco Lima de Santana, o negócio deve render um volume de negócios de R$ 45 mil. Ex-funcionário público, João Bosco trocou a segurança de um concurso para empreender e realizar o sonho de ter o próprio negócio.

Ele abriu a Dalla Strada em 2010 e, após um trabalho de inclusão social com jovens na faixa etária de 15 a 24 anos e em situação de risco, ofereceu a eles curso de design e costura de bolsas.

Contratou cinco deles para escrever uma nova história junto com a Dalla Strada. Naquela época, o faturamento mensal girava em torno de R$ 10 mil. Hoje, com dez jovens contratados, a receita mensal chega a R$ 30 mil.

A capacidade a tual de produção é de 300 peças. Além de Pernambuco, os produtos podem ser encontrados em lojas de São Paulo. Bosco conta que os produtos estão prestes a ganhar o mercado europeu, como a Itália e Holanda, graças à parceria com o Sebrae.

“Com a parceria, aprendi a fazer plano de negócios e abri meus horizontes para conquistar a Europa”, afirma.

Conheça empresários que já estão tendo lucro com a Copa

Um exemplo de empresário que apostou na Copa de 2014 é Carlos Mota, engenheiro de produção em Fortaleza (CE).

Pra ele, a Copa já terminou, pois as obras do estádio do Castelão e a ampliação do aeroporto foram entregues recentemente. Dono da empresa Camol, ele forneceu estruturas metálicas para as fachadas, corrimão e escadas.

Entre julho de 2011 e dezembro de 2012, o faturamento da empresa aumentou em R$ 1,5 milhão. Em comparação com outros anos, o empreendimento registrou crescimento de 30% nas vendas. A receita da empresa no ano anterior às obras por conta da Copa chegava a R$ 4 milhões. Com a oportunidade de grandes eventos esportivos, a Camol faturou R$ 5 milhões.

O quadro de funcionários também foi ampliado. Houve contratação de mais 50 colaboradores, totalizando 135 empregados. No ritmo normal da empresa, a Camol, fundada em 1998, contava com 85 empregados.

Há oito anos no mercado de cursos de idiomas in company (dentro de empresas), a Business Language investe em novos produtos para preparar lojas, restaurantes e quiosques do Rio de Janeiro, visando à ampliação das vendas durante a Copa de 2014.

“Vender todo mundo consegue, mas se for na língua do visitante, essas vendas podem ser potencializadas”, ressalta o empresário Rodrigo Amaral. A empresa também atua na tradução de documentos e em tradução simultânea em eventos, além de testes de proeficiência em línguas para áreas determinadas.

Em contato com o Sebrae, Rodrigo descobriu que precisava desenvolver novos cursos para atrair clientes com foco nos turistas do mundial. No Encontro de Negócios Sebrae 2014, em dezembro, o empresário conheceu parceiros e possíveis clientes. A Business Language chegou a apresentar o portfólio de curs os para treinar funcionários da Mega Matte, rede de lanches naturais, que também participou do encontro.

“Eles relataram dificuldade em vender aos estrangeiros durante a Rio+20 e querem melhorar o atendimento para a Copa”.

O cardápio em inglês não foi suficiente para garantir totalmente as vendas ao público estrangeiro durante a Rio+20. Para esclarecer dúvidas dos clientes, a diretora-executiva da Mega Matte, Fátima Rocha, remanejou de função funcionários fluentes em inglês para assegurar a satisfação do público.

“Foi a forma que encontramos de contornar o problema, pois nossa prioridade é atender bem sempre e acabou dando certo”, garante.

A história da Mega Matte começou com lojas e quiosques de lanches naturais em 1994 e já conta com 103 lojas, sendo mais de 80 no Rio de Janeiro. Nos quatro estados brasileiros onde a lanchonete está presente, cerca de 500 colaboradores serão qualificados em inglês.

“Temos lojas em diversos pontos turísticos e vemos a qualificação como um importante fator de motivação dos funcionários”, ressalta. Além da capacitação dos atendentes e caixas, a Mega Matte também trabalha para disseminar entre os turistas da Copa as práticas sustentáveis adotadas pela empresa.

“Estamos desenvolvendo uma embalagem tetrapak sustentável que mantém as propriedades naturais do nosso mate artesanal sem necessidade de conservantes”, explica Fátima. A empresa pretende formatar parcerias para vender o mate nos estádios e em seus arredores durante a Copa do Mundo.

Go l de Bandeja

As bandejas com acabamento em almofadas servem para decorar, mas também funcionam como apoio para lanches, livros e notebooks.

A ideia surgiu em 1990, quando a empresária e artista Maria Lídia Martuscelli produziu um exemplar para uso pessoal. A “bandoca”, como apelidou a bandeja, ganhou o gosto de amigos e artistas do Rio de Janeiro e foi parar na internet, como a loja de mesmo nome. Desde 2009, a Bandoca fornece para lojas de brindes, de decoração e grandes revendedoras de móveis e utilitários.

Com orientação do Sebrae, a pequena empresa trabalha no desenvolvimento de bandejas específicas para o mundial de futebol. “Queremos aliar sustentabilidade, ‘carioquice’ e Copa”, revela Lidoka, como é conhecida.

As novas bandejas ganharam almofadas com tecido 100% reciclado e tampos que estampam a calçada de Copacabana, os arcos da Lapa e até o Cristo Redentor. “Arrematamos com pequenas bandeiras dos países que vêm disputar a Copa. Queremos levar a bandoca aos hotéis e fechar parceria com as delegações.

Imagina só os atletas usando as bandejas”, planeja. Atualmente, a Bandoca vende cerca de oito mil bandejas por mês, em todo o país. Com as parcerias e os novos produtos, a empresária pretende ampliar o número para 50 mil durante o Mundial de 2014.

Cachaça com turismo

Em Canela (RS), a Flor do Vale acumula os títulos de primeiro alambique brasileiro artesanal certificado pelo ITQI (instituto europeu de avaliação de alimentos e bebidas) e de ponto turístico da região.

A cachaçaria tem canavial próprio e produz licor de canela, mas a vedete dos turistas que lotam a Serra Gaúcha no inverno é a cachaça branca, resultado de pesquisa de cinco anos. Em 2012, o alambique recebeu mais de 55 mil visitantes ao longo do ano.

Para o período dos jogos, em 2014, a Flor do Vale estará preparada para a passagem de 30 mil pessoas e deve vender sete mil litros de cachaça. Preocupado com o desenvolvimento turístico da cidade, a 140 km de Porto Alegre, o alambique disponibiliza transporte próprio para buscar visitantes e fazer passeio panorâmico.

Na cachaçaria, há ainda cachoeiras para banho e prática de esportes de aventura. “Estamos até mudando o nome da empresa para Flor do Vale – Alambique e Parque Ecológico”, avisa o proprietário Antônio Cardoso Júnior. A cachaçaria já tem miniestação de tratamento de esgoto, que permite o reaproveitamento da água e dos resíduos.

“O Sebrae está nos ajudando a reduzir o impacto ambiental. Assim, os turistas vão conhecer a bebida nacional em um local que respeita o meio ambiente”, destaca o empresário.

Horta ampliada

Cláudio Teixeira é outro empresário muito confiante nos rumos que seu negócio está tomando graças à Copa.

Ele é um dos donos da Multi Horta Alimentos, fundada há cinco anos em Belo Horizonte (MG) e que atua no setor de agronegócios fornecendo frutas, legumes e verduras a hotéis, restaurantes e bufês. Animado, o empresário já investiu na troca do galpão da empresa, saindo de uma área de 100 m², para um espaço de 360 m².

“Com isso, aumentamos a área de refrigeração, essencial para quem trabalha com alimentos”, diz o empresário. O investimento chegou a R$ 1,5 milhão. A ideia original era aumentar a empresa apenas perto do mundial, mas Cláudio Teixeira optou por antecipar a decisão.

“As empresas precisam se estruturar para atender ao aumento da demanda”, diz Teixeira. Além do acréscimo no galpão – e na área de refrigeração –, ele não descarta que a Multi Hortas poderá trabalhar em quatro turnos durante a Copa.

 

Reportagem: Assessoria de imprensa. Foto: Divulgação.